Já nos aconteceu a todos: passamos inocentemente num sitio qualquer e , de repente , um cheiro familiar invade -nos as narinas e transporta-nos de imediato para outro espaço e tempo. Só o olfato, entre os cinco sentidos, tem essa capacidade – porque é o único que passa diretamente para o lado direito de cérebro , o do domínio do irracional.
Quando desenho um vinho uma das características que pretendo sempre evidenciar e destacar são aos aromas…são estes que despertam de forma voluntária as primeiras sensações, que de uma forma direta iniciam um diálogo, uma dança, com os consumidores.
Ao construir o vinho estarei a construir uma história com um final Feliz, na qual viajamos, criando a partir daí uma memória positiva.
Potenciar as características aromáticas de cada casta, é para mim uma paixão… Nos vinhos do Alentejo e especificamente da região quente de Serpa, essa magia acontece. Estaremos a falar da região da Europa com maior número de horas de sol, que se traduzirá em uvas com uma maior concentração de açúcar e por isso gerará mostos e vinhos com grande densidade, com grande intensidade aromática, volume e equilíbrio.
Mas a descrição de um vinho não fica completa sem a correspondência da sedução aromática, que nos permitiu iniciar a nossa história, com a prova. A prova tem de ser prazerosa, terá de complementar o ritual e magia dos aromas. A prova surgirá como uma provocação das papilas gustativas, um saciar do gosto …da harmonização com a gastronomia, com as conversas ou reflexões. A prova provocará sensações e emoções que consolam e nos mantêm seduzidos, enquanto a viagem continua…
Esta viagem de partilha, só foi possível graças ao diálogo entre o Enólogo (eu !!) com o vinho branco, da casta Viognier, que comunicou e seduziu…enquanto as palavras iam surgindo e as frases sendo construídas.
Sempre que provo um vinho, gosto de escrever sobre ele, gosto de partilhar as emoções que me transmitiu…é como se estivesse a contar a todos, pela escrita, o que o vinho me sussurrou ao ouvido….
“Este Viognier, de grande intensidade, e definição aromática, envolve-nos num turbilhão de sensações mágicas, onde os frutos tropicais dominam. .
Na boca sentimos harmonia, o equilíbrio entre a frescura e o volume… entre a acidez e a persistência!
Apetece repetir, pelo prazer que nos proporciona… pela paixão que nos desperta!”
Nelson Rolo
Enólogo Monte das Bagas de Ouro